O professor Julio Wainer, diretor da TV PUC São Paulo, setor de produção audiovisual da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, conversou, via webconferência, com a equipe da TV UFAM sobre o funcionamento de uma das emissoras fundadoras do Canal Universitário de São Paulo. Para Julio, um dos sucessos de produtividade da TV é o sistema de produção de lotes de programas que a emissora adotou. Ele falou ainda sobre os desafios da TV PUC e a abordagem de temas polêmicos. Confira a entrevista completa:
Confira vídeo com os melhores momentos da entrevista.
A TV PUC São Paulo está ligada a que órgão da Universidade?
Prof. Julio Wainer: Está ligada à Reitoria. Nós respondemos à reitora. Não obstante, eu pertenço ao Departamento de Jornalismo. Então, a TV PUC responde à Reitoria, mas tem um vínculo ativo com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Comunicação, Filosofia e Letras. A gente tem vínculos institucionais e acadêmicos com o curso de Comunicação.
Qual a estrutura física e de recursos humanos que a TV conta?
Prof. Julio Wainer: A TV PUC tem um estúdio, quatro ilhas de edição, uma delas também é a sala de web e faz tudo relacionado à web, artes e tudo mais. Tem três câmeras de alta definição. Como recurso humano, tem oito estagiários e 12 funcionários.
Quais são os principais programas produzidos pela TV?
Prof. Julio Wainer: Nós temos um esquema de lote de programas. Não funcionamos tanto com a lógica de toda sexta-feira à noite você vai ver tal programa. Não. São lotes de programas, em que os professores participam e fazem uma dúzia de programas. Essa dúzia de programas pode ser gravada em poucos dias, são programas bastante simples. Se forem exibidos uma vez por semana, duram três meses. É quase uma temporada. Acho que esse é o segredo da nossa produtividade. Nós somos uma das mais produtivas entre as TVs universitárias. A gente facilita para que o professor da PUC faça o seu programa de televisão. É um programa de entrevistas, em que está o professor da PUC e seus convidados. Cada programa tem meia hora, 26 minutos. Em uma tarde, gravamos quatro programas de entrevista. Essa é nossa principal linha de produção de programas. Além disso, há programas jornalísticos, em que a gente usa os nossos estudantes de Jornalismo e de Multimeio para fazer a parte de artes, a comunicação para a web. Com os programas dos professores da casa e os de jornalismo com os estudantes, a gente se mantém ocupado e ativo.
Há sete anos utilizamos esse formato de lote de programas. Nós abrimos para qualquer professor da PUC, mas damos preferência aos grupos de pesquisa, programas de pós-graduação ou departamento organizem seu próprio programa. A gente não faz nenhuma seleção temática, nenhum corte de aprovação. O conteúdo quem domina são esses setores, os núcleos, os programas e os departamentos. Esses programas têm um único formato: é um programa de entrevista, com cenário próprio. Como contrapartida, esse colaborador entra como apresentador, com o cenário, o nome do programa e a agenda de entrevistados. A TV PUC entra com os meios técnicos para gravar, colocar no ar e também na web. É um programa que potencializa a conversa, a capacidade de interação dos “cérebros” da PUC com os seus convidados.
A televisão tem uma linguagem muito específica e quem não está inserido na produção de uma TV pode ter certa dificuldade para entender. Como foi o processo de gerar interesse dos professores para participar desses lotes de programas e também de entender a linguagem televisiva?
Prof. Julio Wainer: Essa coisa de linguagem televisiva é assunto farto para discutir na academia. A PUC é forte nessa discussão, tem um curso de Semiótica muito conhecido e fundador de muitos profissionais e pesquisadores Brasil a fora. Mas linguagem de televisão também é alguém na frente da tela falando coisa interessante. Não é somente uma edição sofisticada, com cortes rápidos, tirando proveito da questão de tempo e espaço. É também alguém estabelecendo uma conversa inteligente com que está à sua frente. Então, é um pouco desse programa nessa linha de produção específica. É um programa de entrevista com conteúdo universitário. A gente não lança mão de imagens externas porque é muito difícil montar uma equipe, mandar gravar, editar e virar dois minutos [de produto]. Podem dizer que [os programas de entrevistas] se assemelham a um programa de rádio e pode ser verdade. É um programa de televisão porque é exibido na televisão, mas tem um potencial de rádio. Você pode ver também no seu computador, que não é nem rádio, nem TV, enquanto você faz outra tarefa. Você escuta uma conversa inteligente de dois universitários, de duas pessoas de alto nível de conhecimento em uma determinada área. Isso também é linguagem de televisão. Eu costumo dizer que quem é capaz de dar uma boa aula é capaz de falar em uma câmera de TV, com uma pequena, eu digo pequena, adaptação.
A gente vive num esforço constante de conseguir mais parceiros, pois ainda temos capacidade ociosa de produzir mais. Nessa lógica de numa manhã produzir quatro programas, talvez cinco, é um esquema muito produtivo. Daí a gente prioriza setores da PUC em que a gente ainda não tem uma parceria. Por exemplo, nós temos aqui na casa um programa de TV contratado de psicologia. Então a gente entende que o setor da psicologia já está atendido em nossa programação. Por outro lado, nós não temos ninguém da área de Direito, então a gente busca [parcerias] nessa área. Mas, claro, a gente basicamente funciona como resposta a uma demanda vinda dos setores acadêmicos.
Como se dá a participação da comunidade acadêmica e da sociedade na TV PUC São Paulo?
Prof. Julio Wainer: A sociedade mais ampla está ávida por bons programas. A gente põe na web todo tempo os programas que a sociedade acha melhor, que prestigia com likes, visualizações e a gente ver nos comentários “Poxa vida! Vocês estão fazendo coisas bacanas”, esse é um dos indicadores. Outro indicador é no Youtube. A gente contabiliza os nossos views [visualizações]. A televisão não consegue fazer isso. Existem os índices de audiência que, para grandes volumes, são técnicas bastante apuradas e em constante aperfeiçoamento. Mas para audiências pequenas como a de uma TV universitária é insuficiente. A gente não sabe qual é a nossa audiência no Canal Universitário [Canal Universitário de São Paulo]. A gente sabe qual é o nosso alcance, 1,6 milhão de residências no município de São Paulo. Não é pouco. Mas quando estamos vendo quais os programas mais prestigiados, a gente não tem essa informação. Pelo o Youtube, a gente consegue contar exatamente quantos views tem cada programa. Nós temos uma série muito popular que se chama “Desafio Profissão”, que é sobre orientação profissional. Provavelmente, está sendo visto em todo o Brasil pela web. E, através do YouTube, conseguimos contabilizar quais os programas são mais vistos do que outros. A gente consegue supor que o que faz sucesso na web também faz sucesso na televisão.
No âmbito da Universidade, pedem pautas. A equipe de jornalismo faz pequenas reportagens. Os estudantes têm entusiasmo com conflitos, principalmente conflitos políticos. A [presidenta] Dilma Rousseff teve uma agenda aqui em 2014, a Marina Silva teve uma espécie de lançamento aqui. O provável futuro presidente, Michel Temer, é da casa. A PUC tem esse protagonismo no campo da política. Nessas horas em que a TV PUC se posiciona de forma independente, a gente sente uma vibração positiva entre os estudantes. O nosso corpo de estagiários – são oito da área audiovisual – tem ideias de programas que a gente alimenta.
A TV PUC integra o Canal Universitário de São Paulo. Como está sendo essa experiência?
Prof. Julio Wainer: Nós somos um dos fundadores do Canal Universitário de São Paulo, que já teve nove universidades [participantes]. Agora nós estamos em cinco. Ocorreram algumas perdas e alguns ganhos ao longo esse processo. É uma experiência tida como exemplo em todo o Brasil. O convívio pacífico e produtivo entre universidades. São cinco, mas tem espaço para mais. Se a gente pensar que o dia tem 24 horas, quantas horas originais uma TV universitária consegue produzir por mês? Algumas poucas horas. Consegue uma dezena de hora, um pouco menos às vezes. Tem muitas horas para a gente preencher. Então, tem espaço para todo mundo, além das cinco de hoje. A gestão, no princípio, foi difícil. Houve alguns atritos, mas a gente chegou num bom termo de divisão de horário igual para todas as televisões. Horários de meia hora e de uma hora. E por faixas: na faixa nobre das oito da noite a meia noite, todas as TVs têm o mesmo número de horário. Madrugada, manhã e tarde idem. Cada universidade administra a sua programação. Não há um pensamento de canal propriamente dito. É mais uma divisão de horário entre as universidades. E o que é produzido para a TV é utilizado pela universidade na web, Facebook e outras formas de divulgação. Então, a gente entende o canal universitário como importante, leva informação a um público bastante amplo, ainda que nós não o conheçamos. Mas não é a única maneira de se comunicar com a sociedade, é apenas uma delas. A mesma programação que a gente exibe no Canal Universitário exibe na web.
Quais os principais desafios da TV PUC São Paulo?
Prof. Julio Wainer: A TV PUC, como todas as outras TVs universitárias, tem o desafio de investir nesse mundo de transição. Saber trabalhar com as mídias. TV é uma dela, mas rádio é uma delas, a web é uma mídia mais recente que a TV. E nós temos que está presente em todas elas. Para falar de desafios futuros, mas também presentes, está conectado com a vida universitária; está conectado com o curso de produção de informação (Jornalismo, Audiovisual, Multimeio); ter uma relação amistosa e produtiva com os professores da casa, que são eles que dão visibilidade perante os alunos, a comunidade; e ser relevante para a sociedade, levar o conhecimento universitário para a sociedade. Esses são os nossos desafios, como o de qualquer TV universitária. E, em boa parte deles, a gente tem tido sucesso em enfrentar.
Aliar um conteúdo atrativo e aprofundado é um dos grandes desafios para as TVs Universitárias. Como a TV PUC São Paulo tenta gerir essa questão?
Prof. Julio Wainer: Um dos grandes problemas é a gente chamar o mundo para as nossas costas e não aguentar isso tudo. Acho que esse é um desafio para as TVs universitárias, TVs comerciais, TVs educativas, é para todo mundo: qualidade e volume de informação. Nós somos as mais pobres de todas essas televisões. Nós somos infinitamente mais pobres que uma TV Cultura de São Paulo, uma TV Brasil e infinitamente mais barata que uma TV comercial. O nosso desafio é existir. A gente dá a nossa contribuição. A gente não consegue resolver todas as questões o tempo todo. Temos o desafio de preencher um canal universitário. Temos que ter programas que atraiam a atenção não de todo mundo. Não disputamos todo mundo. Se disputarmos as melhores cabeças, os alunos mais interessantes, algumas das senhoras que estão em casa aposentadas que querem ter uma “conversa” inteligente, nós estamos cumprindo o nosso papel. Só que nos inserimos dentro de uma ecologia de mídia, em que nosso papel é pequeno, mas pode ter momento de pico e a gente tem que está atento para esses momentos. Agora, por exemplo, em que a cidade está polarizada, a PUC se posicionou politicamente, sem deixar de dar voz a todas as partes. Um dos nossos programas fez, por iniciativa de um grupo ligado à Igreja Católica, uma entrevista com um âncora e dois convidados que debatem essa dualidade da cidadania nacional. É uma contribuição. Não é um programa moderninho, cheio de edição, com um apresentador MTV, jovial, com a mão no bolso apresentando. É outra pegada. A gente preenche esse espaço com os nossos recursos e dá a nossa contribuição. Mais uma vez: estamos atento ao momento de pico que nos faz reconhecidos, virar uma referência. Enfim, somos mais um player na ampla ecologia das mídias que está colocada aí.
Com relação às questões polêmicas, qual a linha editorial da TV PUC para tratar esses temas?
Prof. Julio Wainer: Não temos uma linha editorial. Cada uma das questões é uma questão. Nós somos ligados à Reitoria, somos ligados à Fundação São Paulo, que é um órgão ligado à Cúria Metropolitana da Igreja Católica. E esses são os nossos limites de liberdade. A PUC é um ambiente crítico, como são as [universidades] federais, por exemplo, e a gente tem liberdade de ser crítico em relação aos temas da sociedade, da cidade, aos políticos. E para não entrar em conflitos idiotas e que a gente não pode contribuir... Por exemplo, a questão de greve interna. Nós não somos um veículo isento para fazer uma cobertura. É melhor, então, nem fazer. Para fazer uma cobertura capenga ou policiada ou vigiando palavra, que no fundo fazem pouca diferença, pois não é uma TV que vai levantar ou acabar com uma greve, é melhor não fazer [a cobertura]. E deixar espaço para que outra mídia, que não tenha essa afiliação, possa fazer esse trabalho mais isento. Mais uma vez: algumas pautas nós não temos isenção, então é melhor não cobrir.
Como a TV PUC São Paulo busca dialogar com outras televisões universitárias que não integram o Canal Universitário de São Paulo?
Prof. Julio Wainer: A TV PUC, na figura do meu antecessor, professor Gabriel Priolli, foi a fundadora da Associação Brasileira de Televisões Universitárias e também do próprio Canal Universitário de São Paulo, junto à [Universidade] Mackenzie e outras universidades. Então, por aí, já tem uma participação. A gente faz parte da diretoria da Associação Brasileira de Televisões Universitárias, vai a todos os encontros e reuniões. Em termos de produção, é pouco o nosso intercâmbio. Não temos o desafio tão grande de preenchimento de grade horário porque nós somos cinco universidades para preencher um canal. A gente prefere reprisar que colocar mais conteúdos inéditos que venham de outros canais. Neste momento, é a nossa opção.
A Associação Brasileira de Televisões Universitárias compartilha os programas, entre os quais a TV PUC São Paulo é produtora de vários, na RITU, Rede de Intercâmbio de Televisões Universitárias. TVs de todo o Brasil podem exibir nossos programas, desde que mostrem o nosso logotipo. Esse programa de orientação profissional [Desafio Profissão] é muito importante. Esse foi o único programa que a gente detectou uma carência na sociedade, fez uma pesquisa do Canal Universitário, e viu que havia esse desejo de um programa sobre carreiras profissionais. Então, nós convidamos uma equipe aqui da PUC e deu muito certo. Programas como esses podem ser exibidos por outras TVs que tenham o desafio de preencher toda uma grade horária ou metade de uma grade horária de um canal. Basicamente, nós cedemos mais programas do que recebemos.