Diretor Chico Faganello diz que inspiração veio de vivências pessoais
Por Jéssica Salomão, aluna de Jornalismo
O diretor Chico Faganello, da série ficional de comédia Fanátic@s, que integra o edital do programa Brasil de todas as Telas e é exibida na programação da TV UFAM, conversou com a gente para conta um pouco sobre a produção. Conheça um pouco mais dessa série que alia religião, romance e boas risadas para tratar sobre tolerância e respeito.
De onde surgiu a ideia de fazer uma comédia envolvendo a questão religiosa?
Chico Faganello: De um trabalho na época recém-terminado sobre intolerância religiosa, violência psicológica e dos problemas que aconteciam no Brasil naquele momento, com insultos e atos de intolerância em nome de Deus nas mídias de forma cada vez mais frequente.
Como foi produção?
Chico: Filmamos em uma pequena cidade turística de Santa Catarina que fica quase deserta no começo da primavera, o que deixou tudo mais fácil de controlar. Foi uma produção pesada por fazermos treze episódios em apenas seis semanas, mas ensaiamos muito, tivemos duas câmeras, uma equipe determinada e um ótimo elenco que contribuiu muito, foi tudo bem organizado, as pessoas se divertiram, e, quando você se diverte filmando e trabalhando, tudo acontece melhor.
Qual a repercussão esperada?
Chico: Primeiro que as pessoas se divirtam, tenham a possibilidade de se reconhecer na tela, porque isso é uma história que acontece em qualquer subúrbio do Brasil. Ao mesmo tempo, espero que a televisão se abra para esse tipo de série, uma comédia mais inteligente, que tenha mais profundidade psicológica e que realmente faça parte do cotidiano do brasileiro. Mas, eu não sei bem como vai ser a repercussão, o Brasil anda muito maluco ultimamente, sem contar que, como esse material foi exibido em televisões públicas, não sei como esse contexto de TV’s públicas vai se configurar daqui pra frente, mas espero que essa série tenha vida longa e que a gente faça uma segunda temporada, que, aliás, já estamos escrevendo.
Por que inscrever a série no Brasil de Todas as Telas?
Chico: É porque foi a primeira vez que vimos no Brasil essa iniciativa de financiamento de produções para TV’s do campo público. Nos concentramos no tema de transformações do panorama religioso do Brasil no últimos anos, tanto que no projeto fizemos questão de deixar algo “multirreligioso”, ou politeísta, não falar apenas sobre a religião cristã, ateia ou o catolicismo, afinal se você fizer um produto só evangélico, só os evangélicos vão ver, então a gente quis misturar todas as religiões junto com o ateu, que não acredita em deus nenhum, e com uma mística meio “zen”, chazinho floral, pseudociência, porque justamente a realidade multi ética é o Brasil de hoje.
Quando a série foi inscrita, a aprovação era algo que vocês tinham certeza?
Chico: Quando a gente escreve uma ideia, a gente sempre espera que ela dê certo, mas o trabalho é fruto de conhecimento e diálogo, não é que na primeira você escreve e dá certo, você vai amadurecendo. Mas, sim, esperava porque a ideia era boa.
Como foi o momento da aprovação da série pelo edital?
Chico: Foi bom e feliz como sempre é, mas ao mesmo tempo de muita responsabilidade, por que você tem um contrato, uma responsabilidade. Uma coisa é você escrever um roteiro, outra é você convencer uma equipe, atores, roteiristas, técnicos e varias outras pessoas a trabalharem juntos dentro daquele prazo por aquele objetivo, afinal é um trabalho muito intenso. É um momento muito bom, mas ao mesmo tempo muito cansativo.
Uma repercussão até aqui no Norte do Brasil era algo esperado?
Chico: Sim, porque existia uma determinação do edital de que as produções seriam abrangentes, até porque são TV’s que potencialmente poderiam exibir, e quando você escreve um produto para a televisão, você escreve identificando quase que 100% do público. Por exemplo, esses temas são comuns em todo o Brasil, e as questões que a série trata, como o racismo, preconceito com relação à homossexualidade, a hipocrisia da igreja católica e a ambição de certos pastores evangélicos, isso existe em todo o Brasil.
Teve alguma experiência pessoal que inspirou a série?
Chico: Várias, eu tenho uma relação próxima, sou de uma família religiosa, estudei em escola religiosa, fiz vários trabalhos sobre religião, e tem muitos personagens que vieram das minhas relações pessoais, por exemplo, onde eu moro tem um monte de mística, de pessoas que receitam chazinhos florais, biodança que muitas vezes se misturam com a religião. Em Santa Catarina, tem muitas senhoras profundamente racistas, que não conseguem conviver com pessoas negras que eu conheço. Tem vários momentos da série que foram inspirados na vida real. A série foi inspirada na vida real.