"A série é nossa singela contribuição para um mundo mais tolerante", declara Marcos Pimentel, um dos diretores

 

Por Jéssica Barbosa Salomão, estudante de Jornalismo 

Lidar consigo mesmo nem sempre é uma tarefa fácil, ainda mais se o seu "eu" foge dos padrões impostos pela sociedade e a sua autoestima depende de ditadores da beleza.

A série documental “Diários sobre o corpo”, dos diretores Gabriela Altaf e Marcos Pimentel, expõe toda essa realidade por meio de relatos das pessoas que foram alvos de preconceito e rejeição da sociedade apenas por serem diferentes. A produção integra a programação da TV UFAM, por meio do edital Brasil de Todas as Telas. Conversamos com Marcos Pimentel, que falou sobre a inspiração para a produção da série e sobre o processo de construção dos episódios.  

"A ideia surgiu devido à centralidade que o corpo adquiriu nos dias de hoje. O corpo acabou virando o cartão, a forma como a gente se apresenta para as outras pessoas, para o mundo de uma forma geral. E a gente está preocupado, porque apesar de estar muito evidente, o corpo também pode provocar uma série de conflitos, gerando dor e opressão a algumas pessoas." 

Toda essa realidade incentivou os diretores a projetarem uma série inovadora e sensível. "O incentivo foi a tensão muito grande para situações que a gente vê cotidianamente. Temos praticamente uma ditadura da beleza. Resolvemos construir a série para tentar entender o que acontece com as pessoas que não se encaixam nos padrões vigentes na sociedade." 

Mas como selecionar pessoas para tratar de assuntos tão delicados? A série foi dividida em temas, cada episódio possui um assunto especifico, abordando questões presentes nas identidades das pessoas como gordofobia, anorexia, envelhecimento, transsexualidade, entre outros. Segundo Marcos, o mais surpreendente foi ver a coragem que as pessoas têm ao abordar temas tão pessoais. "Todos nos receberam com uma extrema generosidade, abriram suas vidas. Teve gente que nos surpreendeu pela coragem de poder desnudar todos os medos, todas as angústias, dividir com a gente momentos bem íntimos de extrema dor".  

A relação de intimidade é muito forte na série. Falar, por exemplo, sobre casos de bullying e como enfrentá-los ou sobre crianças e adolescentes que tentavam mudar o corpo mesmo não estando com o desenvolvimento completo ainda. "É uma série em que a questão da intimidade é muito importante. Tanto que nós demos o nome de “diários” porque é como se fosse uma espécie de escritura íntima sobre o corpo". 

Eles visitaram as casas dos personagens, trabalho e outros locais onde o corpo estava em evidência. Na série, o tom de confissão faz emergir lembranças, memórias de infância tocantes e definidoras. Segundo Marcos, foi uma tentativa de demonstrar o que eles tinham vivenciado e as soluções que encontraram para seguir em frente e abraçar as suas identidades. 

O diretor explica que foram necessários vários deslocamentos durante as filmagens, e, mesmo com o baixo orçamento para realizar as gravações, a equipe conseguiu superar as adversidades com muita organização, além da usar a coragem dos personagens como inspiração.

"A série serviu para que eu sentisse que sempre tive no caminho certo, sempre procurei ser alguém muito tolerante e aceitar todas as diferenças, não me submeter muito a alguns padrões e não aceitar algumas linhas invisíveis que a sociedade impõe pra gente. Isso é uma das bandeiras que eu quero levar comigo”, relata Marcos. 

Até o primeiro semestre de 2018, a série fica com exibição exclusiva para as TV's públicas, após esse período, Marcos diz que eles vão tentar divulgá-la em outros veículos. O plano é partir para a segunda temporada, dando continuidade aos relatos de pessoas que confrontam os padrões. 

"Há vida fora da caixinha. A gente tem mais é que ser feliz e perseguir essa felicidade. O corpo serve para nos ajudar a sonhar e não para provocar dor”, completa. 

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